OPM Opina #7: O que deu tão errado em Bleach?



Estamos nos aproximando do último capítulo de um dos mangás mais duradouros da Shounen Jump. Bleach deve fechar sua história com pouco mais de 685 capítulos divididos em 3 grandes arcos. Ao longo dos últimos 4 anos, a obra vem sofrendo pesadas críticas dos fãs e uma vertiginosa queda de popularidade, observada tanto pelas posições baixas na Table of Contents(espécie de ranking das séries da Shounen Jump), quanto na redução do numero de vendas por volume. Quem ainda acompanha o mangá percebe que o final parece ter sido acelerado, o que ainda nos leva a pensar que ele esteja acontecendo agora por pressão da revista. Nesse post, falarei dos motivos que me parecem ter influenciado nesse final dramático para o que já foi um dos principais mangás Shounen do mercado.

Apesar de muitos acharem que o mangá poderia ter sido encerrado ao fim do arco dos Arrancars, eu sou da opinião que a história ainda tinha fôlego para mais além dali. Para mim, a queda de qualidade começou do meio pro final do arco dos Fullbringers. E é desse ponto que eu partirei nessa análise.

O arco Fullbring

Pra ser sincero, eu gosto do arco dos Fullbringers. A ideia não é ruim: um arco pra explorar apenas o mundo humano e as implicações da coexistência com os Hollows, dando espaço para explorar os poderes de Inoue e Chad, além de trabalhar o lado humano e a vida cotidiana do protagonista. Os personagens também eram carismáticos (ok, nem todos), o que sempre foi um ponto forte de Bleach. O grande problema foi que nem todo mundo concordou comigo, incluindo os leitores japoneses e os editores da Shueisha.

A derrocada começa no fim desse arco, no que parece ter sido uma manobra editorial: tudo que havia sido construído até então na historia foi acelerado, muita coisa deixou de ser trabalhada, os Shinigamis foram forçadamente incluídos e a conclusão em lutinhas combinadas, apesar de levemente empolgante, foi mais do mesmo. Ichigo voltou a ser um Shinigami e a história voltou pro formato que vendia. Até aí tudo bem, nós conhecemos o mercado e suas regras. Só não esperávamos que uma tragédia maior estava por vir.

Os Quincies entram em cena

Nesse ponto, já sabíamos que esse seria o último arco. Não teria jeito, Kubo estaria forçado a amarrar todas as pontas soltas e revelar todos os mistérios que ele construiu e carregou ao longo da série. E olha só, os vilões seriam a raça do Ishida, os eternos inimigos dos Shinigamis, que até ali não passavam de algumas menções nos power ups do rival e amigo de Ichigo. Tudo começou de forma até que empolgante, com simbolismos com os nazistas, ataques ao Hueco Mundo e à Soul Society(maiores símbolos de poder da série), personagens importantes sendo derrotados ou mortos e um grande vilão promissor. Além, é claro, da suposta troca de lado de Ishida.

A sequência também foi levemente interessante. Soubemos da estrutura dos novos vilões, a quantidade exagerada dos mesmos e vimos as primeiras lutas. O forçado detalhe dos shinigamis não poderem usar suas bankais era perdoável até então. Afinal, poderíamos ver os personagens que a gente já conhecia se reinventando, aprendendo novos truques e etc. Mas infelizmente, parou por aí. A partir das derrotas iniciais dos shinigamis e da luta de Yamamoto, Bleach se tornou excessivamente(e irritantemente) formulaico. Formulaico e maçante.

Bate, apanha, bate…

Esse intertítulo resume bem a estrutura de boa parte das lutas dessa parte final do mangá. Após Urahara solucionar de forma bem prática e sem graça o problema das bankais(SCIENCE, BITCH), a história foi tomada por um eterno pareamento de heróis contra vilões. Sim, era uma guerra, havia motivos pra isso. Mas a escolha narrativa foi péssima: o autor diversas vezes combinava lutas mano a mano que levavam um número excessivo de capítulos para serem resolvidas, com o desenrolar seguindo o mesmo padrão.

O herói apresentava seus poderes. O vilão o surpreende com os seus. Herói se desdobra e consegue supostamente derrotar o vilão. Vilão surpreende e se levanta com a sua forma final. Herói se supera e chega a um estado de quase morte para derrotar o vilão. Agora imagine isso sendo repetido por semanas, naquele ritmo horroroso que conhecemos do Kubo. Depois, por meses. Essa foi a rápida, mas torturante rotina de ler Bleach nos últimos anos. Ah, faltou mencionar um detalhe importante: tudo isso era regado a personagens extremamente ruins nos postos de vilões.

Stern Ritters e como não fazer antagonistas

Os antagonistas são um dos pontos do sustento de Bleach como história. No arco da Soul Society, os próprios shinigamis faziam bem essa função. No arco do Aizen, os sensacionais Espadas cumpriam a tarefa. Nesse arco, os Stern Ritters teriam essa responsabilidade. O grande problema é que um autor tem que ser muito habilidoso pra conseguir trabalhar com VINTE E SEIS antagonistas sem estragar tudo. Não foi muita surpresa essa bomba estourar na mão do Kubo. Pois é, ninguém avisou pro cara que não valia tanto a pena assim usar essa simbologia do alfabeto…

O resultado foram vilões “sem sal”, sem personalidade, sem carisma e pouco convincentes. Alguns chegavam a dar vergonha de tão patéticos. Poucos ali se salvam e pouquíssimos nos faziam nos importarmos por eles, afinal, acabávamos de ser apresentados àqueles personagens e já sabíamos que eles morreriam alguns capítulos depois. Particularmente, ainda acho que o pior foram seus poderes: afinal, haja criatividade para inventar 26 habilidades exclusivas, então o autor partiu pra solução mais fácil: transformar os quincies de arqueiros manipuladores de reishi em “manipuladores de reishi que podem fazer o que quiserem disso”. Assim surgiram habilidades como “grito sônico”, “controlar zumbis” e “poder da imaginação(!)”…

E assim, lemos semana após semana a mesma fórmula de plot twists com os mesmos personagens chatos fazendo coisas cada vez mais bizarras.

Festival de bankais

Dos maiores “segredos” de Bleach, as bankais certamente são o que chamam mais atenção: todo mundo quer saber da última transformação, o mais alto estágio de poder daqueles personagens. Kubo, à época, guardou muitas delas a sete chaves, com certa razão, até. Só que com o fim do mangá batendo na porta, não restou muita alternativa pro autor a não ser revelá-las uma por uma nesse último arco. Um verdadeiro show off indiscriminado, chegando ao ponto de personagem mostrar bankai para morrer em seguida. Mas apesar de algumas delas serem surpreendentemente decepcionantes(cof, cof, Kensei e os vizards), outras valeram a pena.

Sim, as técnicas finais de Rukia, Kyouraku, Zaraki e Urahara valeram o tempo esperado, são coerentes, bem elaboradas e visualmente agradáveis, mas claramente não foram planejadas pra serem utilizadas nesse arco. Só estão ali porque tem que estar. Tudo foi extremamente corrido e adaptado. Aliás, tem personagem importante que nem chegará a ter sua bankai revelada…

Personagens mal aproveitados

O que Isshin, Ryuken, os fullbringers, os vizards, Aizen e a divisão zero estão fazendo nesse arco? Os últimos ainda tiveram toda uma sequencia com o treinamento de Ichigo, mas mesmo assim não escaparam do esquema “mostrar pra matar/largar de mão”. Foram tantos personagens que Kubo deixou “para depois” que ficou difícil todos terem um “tempo de tela” decente nesse último arco. Isshin e Ryuken, por exemplo, como bem cunhou um amigo, trabalharam de Sedex. Dois dos personagens mais importantes pra suas devidas raças nem mesmo se envolveram no conflito sabendo de toda a extensão do problema e de como isso envolvia seus filhos? Eu espero que os últimos capítulos me contradigam nessa parte…

Vizards, Aizen e os fullbringers foram simplesmente relegados a ferramentas de roteiro. Tantos capítulos gastos com lutas inúteis para reservar a personagens icônicos poucas páginas e a função de solução mágica pros problemas do protagonista contra um vilão absurdamente poderoso.

Yhwach: quando criar um personagem mais ameaçador que Aizen foi longe demais

O grande patriarca dos quincies até que não é um personagem ruim. Suas ambições são bem aceitáveis e seus métodos são os de um bom vilão de shounen. O que me incomoda são seus poderes de clarividência e de alterar o futuro. Apesar de gostar da representação de futuro que Kubo utilizou na historia, é difícil controlar um personagem assim sem furar seu próprio roteiro. As lutas de Ichigo contra o mesmo não tinham lá grande impacto simplesmente porque você sabe que o protagonista não ganharia de alguma forma “natural”, digamos assim, ali. Apesar de eu entender que o autor queria trabalhar com a temática do desespero, um shounen não funciona muito bem dessa forma.

A sua derrota, então, até agora não me convenceu. Morto por um Deus Ex Machina que não se sabe por que ele não pôde prever. Esse é outro ponto no qual eu espero que os últimos capítulos me contradigam. Yhwach falha quando Kubo tenta que ele seja uma ameaça maior que Aizen. Pra chegar nesse status, o vilão acabou ficando exageradamente poderoso. Nem mesmo o autor sabia como se livrar dele a partir daí.

Pontos positivos

Apesar de todas as minhas críticas, cabe mencionar alguns acertos durante esse arco. Um deles é o flashback de Isshin e Masaki. Por algum motivo, Kubo sempre manda bem nesses mini-arcos de flashback. A história dos pais de Ichigo foi tratada com a delicadeza e a ação no ponto certo. Ao menos a origem de Ichigo teve seu fechamento devido. Pra nós que brincávamos que o protagonistas “era de todas as raças da série”, a brincadeira acabou virando verdade.

Nesse ponto, a questão da zanpakutou e os poderes do protagonista também foram bem contadas. O fato do Zangetsu ser uma versão mais jovem de Yhwach foi uma ótima sacada, que já contava com seus foreshadows desde o arco do Arrancars. O arco das asauchis serviu para fechar essa questão de uma vez por todas. As duas espadas também foram uma solução inteligente do Kubo para permitir que Ichigo usasse suas duas fontes de poder.

Não foi só Ichigo que teve seus bons momentos nesse arco. Personagens como Komamura, Kyouraku, Yachiru, Nanao e especialmente a dupla Mayuri e Nemu tiveram seu espaço devido e alguns aspectos como personagens trabalhados de forma melhor. Aliás, o conflito de Nemu e Mayuri foi o que salvou a luta contra a patética mão gigante, arrastada por vários capítulos. Não dá para negar que o excêntrico cientista termina como um dos personagens mais carismáticos do mangá. Ainda assim, ficou aquela sensação de que tudo foi improvisado, que aquela não parecia a situação ideal para se trabalhar aquelas questões e aqueles personagens.

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Eu sou fã de Bleach há alguns anos e lamento muito que o mangá termine dessa maneira. Kubo poderia ter feito muito melhor dos recursos que ele tinha disponível. Mais de quatro anos para encerrar a história com tranquilidade foram desperdiçados em capítulos com pouco conteúdo e lutas arrastadas. E pelo que tudo indica, o final corrido e com várias pontas deixadas soltas, vários personagens esquecidos, está se dando por pressão editorial. Não podemos culpar a Shounen Jump dessa vez: o tempo dado ao autor foi suficiente até demais.

Agora, fica a dúvida se esses problemas que Kubo teve com sua narrativa foram simplesmente culpa sua, se foi influência de editores que tenham trabalhado com ele(afinal, por mais que a obra tivesse uma queda nas vendas, as médias de venda por volume se mantinham até que estáveis) ou se simplesmente o autor se desgastou com a obra, levando o público junto. Particularmente, eu acredito que foi uma conjunção desses três fatores.

E você? Deixe sua opinião e análise nos comentários!

5 comentários sobre “OPM Opina #7: O que deu tão errado em Bleach?

  1. Andrey disse:

    Bom, bleach foi um mangá com potencial, mas nunca cumpriu isso de fato. Os personagens são atrativos por motivos de seguir um estilo que normalmente atrai fãs, mas não é como se eles fossem carismáticos ou cheios de personalidade, é o contrário… Os personagens de bleach são planos, normalmente presos a uma característica e muito pouco se tem de interação humana ali, quanto mais um personagem se parecer com um humano, mas redondo ele será, mais tridimensional. Em bleach temos estilo, um cientista louco, um cara arrogante com cara de quem não se importa com porra nenhuma, um tarado, um bonzinho, um badboy… Etc, mas isso não deixa de funcionar com a fanbase.
    O problema de bleach é esse, não tem grande genialidade, mas o Kubo adorava pagar de gênio com diversas referências, falava pra krl, quando na verdade estava apenas tossindo… O traço era ruim (a dinâmica não prestava para lutas, os personagens pareciam parados, os golpes de espadas eram patéticos, o Kubo literalmente já fez um cara soltar um ataque especial e focou só no pé do mesmo)
    e alguém sempre tinha a carta perfeita para sair de uma luta difícil porque sim, cheio de conveniências de roteiro (exemplo, estou enfrentando um deus, omg, vou tirar uma espada matadora de deuses; ou estou enfrentando zumbis, omg, vou usar o veneno que inventei pra curar eles, ou estou enfrentando um inimigo que pode se infiltrar no corpo, omg, a Nemu já estava preparada pra uma situação do tipo) não cito tudo porque n vou sair daqui hoje se fizer isso, sem contar a falta de valor estratégicos nas lutas… Mas Kubo disfarçava um monte de falha como autor usando flashbacks bonitinhos para dizer que o personagem era alguma coisa além de um preguiçoso.
    Soul Society foi a melhor saga, provavelmente, era onde as coisas estavam sendo montadas e onde ele poderia explodir para algo melhor e maior (falo de melhor e maior porque bleach foi grande e conquistou muitos fãs, mas isso não o torna bom)
    Mas é como eu disse, mesmo com as falhas, Kubo funcionou o suficiente para disfarçar as mesmas até determinado ponto, mas depois quando não conseguiu mais, começou a queda do “maior” porque “melhor” não dá pra ser. As coisas se tornaram óbvias por ele ser incapaz de disfarçar como fez com os capitães e com os espadas… mais de 20 personagens caindo do céu sendo nunca mencionados antes é algo difícil de lidar, difícil de se trabalhar e também é um erro (se tem mais de 20 inimigos, use eles na saga anterior para algo importante, mencione-os… Mostre que eles existem e aprofunde-os depois… Não precisa nem mencionar todos, só mostre alguns para dar ideia de raça), Kubo disse que essa foi a saga mais planejada de bleach, mas a falta de planejamento é óbvia e a história do “eu vou mostrar isso no cap 512, mas dizer que estava ali o tempo todo” não cola.
    Eu falo isso como alguém que já foi muito fã de bleach anos atrás, hoje sou só uma existência que teve decepções no início de 2012 com a obra

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