Todo verão tem seu fim, bebê.
(Confira aqui o Dia 1, o Dia 2 e o Dia 3)
Nesse última dia de Verão Otaku, assisti a Rōjin Z, longa de 1991 criado e roteirizado por Katsuhiro Ōtomo e dirigido por Hiroyuki Kitakubo. A dupla havia trabalhado em Akira, em 1988. Ōtomo, nome já consolidado nos anos 90, ajudou na ascensão de Kitakubo como diretor, que viria a trabalhar em Golden Boy e Blood: The Last Vampire.
Não por acaso, Rōjin Z me remeteu bastante a Akira. Só que melhor, já que eu tenho uma enorme dificuldade em me importar com Akira. Nunca li o mangá, mas admito não ter curiosidade, pois a falta de coesão do filme não me vendeu a história como deveria… Enquanto Rōjin Z, por outro lado, mostra-se um longa mais sucinto, menos impressionado consigo mesmo.
É de se reconhecer o “mechanical design” em ambos Rōjin Z e Akira, bastante característico de Ōtomo a essa altura. É um tanto fascinante a concepção orgânica, quase viva, das entulharias tecnológicas que compõem suas… criaturas. Há um fator aglutinante, uma nota poética no aspecto acumulador e consumista dos aparelhos e parafernálias modernas que sugam e absorvem a si mesmas, gerando bolotas incompreensíveis de tecnolixo urbano. Em seu cerne, há sempre um personagem em conflito interno: o adolescente oprimido de Akira e o idoso negligenciado pela sociedade de Rōjin Z. São personagens-símbolo, que representam uma faceta do mundo contemporâneo, seja na repressão a que são submetidos, seja no desejo violento e devorador de serem ouvidos e salvos de tal repressão. Os temas de Ōtomo são, interessantemente, de clara tradução visual e estética. O homem sabe ilustrar a que veio.
Contudo, eu não costumo me interessar por seus roteiros. Por melhor executadas que sejam as metáforas e analogias visuais, eu repito que tenho dificuldade em me importar com Akira; e, até certo ponto, com o próprio Rōjin Z. Pois como escritor, Ōtomo não parece interessado em progressões narrativas padrão. Vou tomar Rōjin Z como exemplo: o filme estabelece seus temas e seu conflito – cuidados à população cada vez maior de idosos e os limites entre tecnologia avançado e o contato humano básico – logo nos primeiros 15 ou 20 minutos. Então, uma cama hospitalar futurística ganha vida, faz um idoso de refém e sai pela cidade consumindo toda tecnologia ao alcance, se transformando num mecha disforme de aparelhos e produtos modernos, como uma pilha de lixo consciente e terrível. Pronto, são mais 80 ou 90 minutos de Katamari. (Sabe? O jogo, Katamari. Se não conhece, aí embaixo está um vídeozinho).
O problema é que, assim como Akira, o filme prova o seu ponto logo no início. Tudo que Akira e Rōjin Z queriam me dizer já foi dito no primeiro ato. O restante é só uma longa batalha destrutiva entre o homem e a tecnologia fora de controle que ele mesmo criou, blá blá blá, ZZZZZZZZZZZZZZ. É uma longuíssima masturbação, por falta de termo melhor. Akira, pra piorar, é uma masturbação bem cara pra época e que todo mundo aplaude como sendo a melhor e mais cara masturbação já feita. Mas o ponto é provado tão cedo… Akira diz tudo em tão pouco tempo…
Enfim, Rōjin Z pelo menos é gostosinho, é tongue-in-cheek; ao contrário de Akira, é como se o quesito Katamari da obra não precisasse ser levado a sério. Ōtomo parece se divertir um pouco mais com Rōjin Z. A coisa é menos intensa, e portanto menos cansativa.
E com isso, chega ao fim o meu Verão Otaku de 2019! Eu adorei cada obra que assisti à sua própria maneira. Mesmo quando não adorei, o cinema ainda é, como diriam alguns cineastas, um templo. A telona é sagrada, e eu espero que em 2020 também role um Verão Otaku, com mais animes clássicos e novidades.
3 comentários sobre “Verão Otaku – Dia 4 (Rōjin Z)”