
Que a franquia Super Sentai possivelmente anda mal das pernas em termos de negócios já não é uma grande novidade para os fãs, ainda que as versões sobre essa crise sejam conflitantes. Independentemente da extensão desses problemas, Avataro Sentai Donbrothers nasceu com a missão de revitalizar a franquia e o gênero, e à medida que se aproxima de sua provável leva final de episódios após o 30º, exibido no último domingo, mostra que já cumpriu parte da proposta, mas segue com muito espaço para fazer ainda mais história.
O ponto forte do texto de Toshiki Inoue (roteirista-chefe) é a rápida troca entre a tensão e a comédia — ou o simples alívio cômico —, um formato que sustentou a atual temporada com bastante segurança até aqui, mesmo em momentos de episódios pouco inspirados ou afastados da continuidade da grande trama. Um outro pilar do roteiro, porém, chegou ao seu ápice nesta (e deve permanecer nele na próxima) semana: a longa lista de mistérios e desencontros que Donbrothers carregou e segue carregando. De forma impressionante, sem cansar o espectador.
Episódio 30 de Donbrothers trouxe drama sem perder a essência cômica. Taro, Tsubasa e Kijino em pauta
O episódio 30 entregou o que há muito se prometia. Foram explicados boa parte dos conceitos e motivações de personagens como os Juto, os Anoni e até Murasame. O fim dos segredos foi apimentado pela instalação de um novo cenário de tensão: eliminar os Juto significa eliminar seres humanos que nada têm a ver com a festa. A reação hesitante de Don Momotaro quanto a isso é algo particularmente intrigante. Para além do instinto de proteção aos inocentes, as revelações o impactam por serem diretamente ligadas à sua origem. Até aqui, vimos pouco de Taro questionando-se sobre o assunto, mas o excelente episódio 29 mostrou que podemos esperar entretenimento de qualidade nesse possível contato entre o líder dos Donbrothers e o mundo dos Noto. Essa leva final de episódios deve levantar esse conflito, inevitavelmente.

Numa trama paralela, liderada por Miho/Juto (ou Bestial) da Garça, a série promete agregar drama entre dois mocinhos com a quebra de outro segredo: a identidade do Inu Brother (para os demais heróis), que acabou de descobrir que sua suposta amada é na verdade a esposa de um amigo. Do grupo principal, Tsubasa é o personagem que normalmente dispõe de menos tempo de tela, e será interessante que a introdução de sua identidade aos companheiros seja da forma hostil como se promete, bem diferente dos demais protagonistas. Uma possível perda de Miho (seja pela trama dos Juto ou por um possível retorno da Natsumi original), pode virar a bússola do drama para o Kiji Brother, personagem abertamente construído como uma bomba-relógio de emoções. Um conflito que ainda deve ser postergado por mais algum tempo.
Mesmo que rápidos, os momentos cômicos seguem sendo a alma e a assinatura de Donbrothers. As caretas e a interação da ótima Haruka de Kohaku Shida com o storytelling, os comentários espirituosos de Taro (um também excelente Kouhei Higuchi) e os momentos nonsense ajudaram para que esse 30º episódio ficasse menos carregado em seriedade, o que parece ser também a aposta para o 31º. Nesse ponto, a série segue como uma surpresa muito positiva: num mercado de criação voltado à venda de brinquedos, é muito difícil manter a solidez artística que esta temporada apresentou na maioria de seus 30 episódios. Veja bem: o capítulo desta semana foi tão denso em termos de trama que as lutas de Jiro e dos mechas contra o Hitotsuki da vez duraram alguns instantes. Pois é, sem tempo para ser um Super Sentai normal, meus amigos.

Os negócios não devem ficar de lado por muito tempo, e tanto vazamentos quanto a provável reta final da série (numa previsão otimista, teremos mais 20 episódios, aproxidamente) devem trazer novidade nos arsenais, nos mechas e no visual da equipe. Mas com três dezenas de episódios concluídos com um estilo de escrita e direção assertivo e fidelidade a sua proposta, já não há mais aquele temor sobre uma possível correção de curso. Donbrothers nasceu disposto a fazer diferente, cumpriu essa missão e já marcou o público de forma definitiva com caminhos até então impensáveis para a franquia dos esquadrões coloridos. Que o nosso caos criativo preferido continue firme e forte nesses próximos meses.